Amor, saudade e cerveja

O bar está cheio. Estou sentada sozinha inundada pelos murmurinhos das conversas alheias. Por dentro o que me enche é a saudade, sou invadida pelas lembranças de outros tempos, quando a rotina era estar perto. Lembro de sua presenca na mesa comigo, rindo de assuntos leves, atento à angústias da vida. Dividindo não só a cerveja mas também toda uma história de poucos anos acumulados em tantas mudanças. Hoje dividimos tudo ainda, inclusive o sentir falta do que parecia tão banal, mãos dadas, abraços, beijos, a presença constante pelas horas do dia. Hoje você me contou sobre o medo da morte, amanhã é seu aniversário, o que pode ser gatilho para você mas pra mim é dia de celebrar. Por mais que viver seja uma aproximação diária do dia que o destino nos reservou o fim, Pensar que já estamos há seis anos caminhando juntos resignifica a ideia do que é viver. Vou morrer diferente, serei outro eu, e aqui não cabe nenhuma intenção cristã de morrer reservando um lugar no paraíso. Vou morrer diferente e isso me basta, me tira da mesmice de permanecer igual por toda uma vida minha. Deixarei uma vida, que talvez nunca seja lembrada, que foi entrelaçada na sua, e por isso nunca mais foi a mesma. Não ficou imune a nenhum sofrimento, nenhuma lágrima, mas pode dividir com você. Sorriu buscando com os olhos seus lábios pra saber se a graça te alcançou e te alçou à risada. Em meus esquecimentos, fui lembrada. Em minhas angústias, abraçada. Você me levou para o lugar do sentir, em sua tamanha complexidade diária. Afinal, amar revolta, refaz, renova e restaura ao mesmo tempo. E me deixou nesse sentir, inclusive na sua falta física, entendendo o que é a saudade. Talvez seja muito heróico dizer que não temo a morte, já que nunca a senti em minhas entranhas botando pontos finais em tantas possibilidades. Mas posso dizer que quando ela chegar, terei um fechar de olhos preenchido pelo amor que te moldou e que me fez escolher a cada dia permanecer. Minha cerveja esquentou, garçom!